Por Cauê de Almeida, Cícero Lima, Paulo Victor Ribeiro e Thálita Sampaio
Na 12ª Parada LGBTQIA+ de Vitória, a diversidade marcou presença não apenas nas cores e nos sorrisos contagiantes, mas também nas histórias de vida. Entre os leques e as roupas vibrantes, um grupo especial de participantes chamou atenção: pessoas acima dos 50 anos, que trouxeram consigo um brilho único e uma bagagem com muita história pra contar.
Enquanto os participantes mais jovens se espalhavam avenida à frente celebrando, esses veteranos do ativismo LGBTQIA+ mostraram que os criadores desse caminho foram eles — e que a luta por direitos e visibilidade avançou muito nas últimas décadas. Com histórias que vão desde as primeiras Paradas do estado até participações ativas em organizações ativistas, Marina, Victor, Carlos e Chica compartilharam suas perspectivas com a equipe do O Leque, mostrando que as muitas experiências são o que fazem do movimento LGBTQIA+ algo tão rico e potente.
“Precisamos garantir que a mensagem principal, de direitos e igualdade, não se perca no meio da festa”. Carlos Holtz, arquiteto de 54 anos, é um veterano da Parada LGBTQIA+ no Espírito Santo, tendo participado seis vezes. Ele trouxe uma visão crítica, destacando tanto os acertos quanto os pontos que ainda precisam de melhorias.
“Eu adoro a organização do evento, mas sinto que ainda falta uma representatividade mais genuína. Muitas pessoas vêm aqui como se fosse apenas uma festa, sem entender a profundidade do que significa estar neste espaço,” comentou Carlos. Ele acredita que, embora a visibilidade tenha crescido, ainda há uma falta de compreensão sobre o verdadeiro propósito do evento.
O arquiteto também opinou sobre a importância de sair do “gueto” e alcançar uma visibilidade mais ampla. Segundo ele, “o Sambão do Povo é um local ótimo, mas ainda restrito. Precisamos de mais divulgação para que a sociedade em geral entenda a importância da Parada,” sugeriu.
Para ele, a educação e a conscientização são chaves para que eventos como esse transcendam a mera celebração e se tornem verdadeiros marcos de transformação social. “Ver tantas pessoas aqui é maravilhoso, mas precisamos garantir que a mensagem principal, de direitos e igualdade, não se perca no meio da festa,” concluiu.
“Uma Parada que termina no sambódromo e é excepcional, um local popular de festa e luta e também da comunidade LGBT”.
Visitando Vitória pela primeira vez, Marina Reidel, 53, fez questão de comparecer à Parada. Convidada pra palestrar no 1º Seminário Nacional de Transfobia Ambiental – realizado na última semana pelos mesmos organizadores da Parada, a Associação GOLD -, a coordenadora LGBTQIA+ do Fundo Positivo trouxe uma perspectiva nova e engajada.
Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Marina veio pra participar da parada e pra representar o Fundo Positivo. “O Fundo Positivo é uma instituição independente que apoia eventos da sociedade civil. Recentemente, apoiamos o primeiro seminário sobre transfobia ambiental, que ocorreu esta semana. Tem tudo a ver com a parada hoje, que também busca a conscientização sobre questões ambientais e a representatividade dos nossos corpos nesses espaços”, explicou.
O Fundo Positivo é uma organização brasileira dedicada a apoiar projetos focados na saúde e direitos sociais, iniciada em 2014 com ênfase em HIV/AIDS. Mobiliza recursos de diversas fontes pra financiar organizações em todo o país através de editais públicos. Com reconhecimento nacional, já apoiou mais de 200 organizações em áreas como saúde pública, direitos LGBTQIA+, inclusão social, entre outros.
A participação da organização destaca a importância de abordar temas complexos e interseccionais em eventos LGBTQIA+, ampliando o entendimento e a conscientização sobre a diversidade de questões que afetam a comunidade.
Victor De Wolf, 42, também fez sua estreia na Parada de Vitória. Como presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), organização que é uma das principais vozes nacionais de ativismo pela comunidade, a sua presença, junto com a de Marina, reforça a imagem do evento como um marco no ativismo e militância contra à LGBTfobia no cenário nacional.
“É a minha primeira vez na parada aqui em Vitória e estou adorando. Fui ao seminário e participei das discussões. Represento a ABGLT, e foi muito importante debater temas como o sistema prisional e transexualidade, questões ambientais e transexualidade indígena. São tópicos que precisam ser discutidos”, afirmou Victor.
Ele destacou o impacto positivo do evento. “A parada terminando no sambódromo é excepcional. Nós fizemos o trajeto por um local super popular da cidade. É importante ter essa visibilidade e lutar pela comunidade LGBT desde o início do evento”, observou Vitor.
“Agora é o momento dos mais jovens, como Deborah Sabará, Diego Herzog e Maria José dos Santos, que têm feito um trabalho incrível”.
Chica Chiclete, com seus 56 anos, é uma figura precursora no ativismo LGBTQIA+ capixaba. Sua jornada começou nos anos 90, quando o termo Parada ainda engatinhava no vocabulário popular. “Eu lembro da primeira Parada Gay de Vitória, que eram cinco pessoas atrás de um trio elétrico. Ver como tudo cresceu é emocionante,” contou Chica, uma testemunha viva da evolução do movimento e da expansão da visibilidade LGBTQIA+.
Mas mesmo com uma história de militância extensa, Chica acredita que é hora de passar o bastão para a nova geração. “Agora é o momento dos mais jovens, como Deborah Sabará, Diego Herzog e Maria José dos Santos, que têm feito um trabalho incrível pela GOLD. Eles trazem uma nova energia e visão para o movimento,” destacou. Chica também elogiou a organização do evento, especialmente a segurança. “Nunca vi algo tão bem feito. A equipe de segurança foi excelente, garantindo que todos se sentissem seguros e acolhidos,” elogiou, ressaltando a importância de um ambiente seguro para a expressão e celebração da diversidade.
Para Chica, cada desafio enfrentado ao longo dos anos foi uma oportunidade de aprendizado e crescimento. “A luta é contínua, e cada vitória deve ser celebrada. A nova geração deve aproveitar as oportunidades que surgem e continuar a luta com paixão,” incentivou. Ela permanece uma fonte de inspiração, demonstrando que a militância é uma jornada de vida, onde cada passo é um avanço para toda a comunidade.
Se engana quem pensa que a Parada é só para os mais jovens. A presença de figuras como Marina, Victor, Carlos e Chica na Parada LGBTQIA+ de Vitória serve como um testemunho poderoso da diversidade e da força dessa comunidade. São perspectivas únicas, e que compartilham o mesmo ideal de que eventos como a Parada são fundamentais para o avanço dos direitos LGBTQIA+. Uma geração mais velha, mas que abriu portas e pavimentou o caminho para os que agora trilham a voz ativa da militância, com responsabilidade de continuar a luta com vigor e criatividade.
A presença dos veteranos é um lembrete de que a luta continua, e que cada conquista de hoje é fruto de anos de resistência e coragem. A jornada de visibilidade e igualdade ainda é longa, mas com a determinação e o apoio de todos, cada parada é um passo a mais em direção a um mundo mais justo e amoroso.